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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sentes-me?


Já é presença habitual neste blog a minha amiga Vanda. Não nessa qualidade, mas porque os seus textos enriquecem esta página. Relativamente a este texto, transcrevo o meu comentário noutro local:

"Que belo texto literário! Usas a lingua portuguesa com muita sensualidade e, muitas vezes, emocionas-me! Se me emociono, naturalmente, que te sinto ..."



Hoje resolvi entrar no meu caderno. Afastei as palavras tristes da vida e segui caminho.Parti para uma longa viagem com a esperança de te encontrar…Era tanto o enredo… as frases contorciam-se de desejo, de paixão…As palavras, ora eram meigas, ora de mágoa… Algumas desfaziam-se em lágrimas, outras renasciam em flores perfumadas…Os lugares fantasiados, as ilusões esperadas à beira-mar, os sonhos cantados em desertos de amor… todos tinham o teu cheiro… por todos tinhas passado em pensamentos que me levaram a escrever tanto querer…O caminho era longo, mas a vontade de seguir era maior… procurei-te nos lugares mais recônditos do mar, nas grutas mais altas das montanhas, nas ilhas afastadas de um abraço…Olhei o Sol, esperei a Lua… Encontrei pontos de interrogação em frases que não obtiveram resposta…E a palavra loucura… Ah! A palavra loucura que se encontra em molhos cheios de folhas verdes de sedução…Desenhei uma estrela, sorriu-me inquieta… agarrou-me na mão e mostrou-me um pássaro livre que voava em toda a poesia que escrevi… sim, eras tu, tinha-te imaginado pássaro nesse dia… sorri… e fiquei a pensar em que verso nos iríamos encontrar…Cansada adormeci… deitada na areia de uma praia qualquer de um sonho meu…Tu, trouxeste no bico a palavra ternura que colocaste sobre mim para me guardar da brisa do mar… que chegava…sentes-me?

Vanda Paz

sábado, 9 de fevereiro de 2008

É natural que não se pense


Acho tão natural que não se pense
que me ponho a rir às vezes, sozinho,
não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
a perguntar-me coisas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
como se desse por mim com um pé dormente. . .

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
deixaria de ver as árvores e as plantas
e deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
Alberto Caeiro

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Declaro-me culpada ...


A minha amiga Vanda é na poesia uma princesa a escrever!
Caminha para a galeria de autores consagrados.
Será o seu destino...!

Confesso que fui eu que troquei a aurora
para te poder ver logo pela manhã.
O cheiro a maresia que sentias e que tanto cheiraste
eram das minhas lágrimas salgadas, misturadas no teu mar.
Confesso que fui eu que pedi àquela gaivota
para te fazer companhia naquela tarde que te sentias tão só.
Soprei lilases e mandei-os para ti.
Limpei a lua para brilhar mais para ti.
Afastei todos os ventos,
para que o sol ficasse mais quente… para ti…
Confesso que navego em mares de sonhos,
que trago as ilusões como lâmpadas na vida apagada,
que faço dos desejos realidades prometidas…
Que trago nas mãos palavras como estrelas caídas.
Juntei as almas dos escritores e dediquei
todos os poemas de amor… a ti…
Peguei nos teus versos, poeta, e senti cada palavra,
cada sonho, cada desejo… como se fossem para mim…
Confesso que guardo o brilho dos teus olhos,
a força das tuas mãos, o cheiro do teu corpo,
o calor dos teus lábios……
a tua voz… trago-a escondida dentro do meu peito…
Declaro-me culpada… de tanto te amar…
Vanda Paz

O preço do ódio e do perdão


Descubro em minhas anotações de 1989, algumas notas de uma conversa com J., a quem chamo meu “mestre.” Naquela época, falávamos de um desconhecido místico, chamado Kenan Rifai, sobre o qual pouco se escreveu. - Kenan Rifai diz que quando as pessoas nos elogiarem, devemos ficar de olho em nosso comportamento – diz J. – Porque isso significa que escondemos muito bem nossos defeitos. No final, terminamos por acreditar que somos melhores do que pensamos, e o próximo passo é deixar-se dominar por um falso sentimento de segurança, que terminará nos cercando de muito perigo.
Como prestar atenção às oportunidades que a vida nos dá?
- Se você tiver duas oportunidades apenas, saiba transformá-las em doze. Quando tiver doze, elas se multiplicarão automaticamente. Por isso Jesus diz: “aquele que muito tem, mais lhe será dado. Aquele que pouco tem, o pouco que tem lhe será tirado.
É uma das frases mais duras do evangelho. Mas tenho reparado, no decorrer da vida, que é absoluta verdade. Entretanto, como vou poder identificar as oportunidades?
- Preste atenção a todos os momentos, porque a oportunidade, o “instante mágico”, está ao nosso alcance, embora sempre o deixemos, passar, por causa do sentimento de culpa. Portanto, evite gastar seu tempo culpando a si mesmo: o universo se encarregará de corrigí-lo, se você não for digno do que está fazendo.
E como o universo vai me corrigir?
- Não será através de tragédias; estas acontecem porque são parte da vida, e não devem ser encaradas como punição. Geralmente, o universo nos indica que estamos errados, quando nos tira o que temos de mais importante: nossos amigos.
“Kenan Rifai foi um homem que ajudou muita gente a encontrar-se consigo mesmo, e a conseguir uma relação harmoniosa com a vida. Mesmo assim, algumas destas pessoas se mostraram ingratas, e jamais voltaram a cabeça para dizer ao menos ‘obrigado’. Só retornavam a ele quando de novo suas existências se encontravam em completa confusão. Rifai tornava a ajudá-las, sem fazer qualquer referência ao passado: ele era um homem de muitos amigos, e os ingratos sempre terminavam sozinhos.
- São belas palavras, mas não sei se sou capaz de perdoar a ingratidão com tanta facilidade.
- É muito difícil. Mas não há escolha: se você não perdoar, irá pensar na dor que lhe causaram, e esta dor não passará nunca.
“Eu não estou dizendo que você deva gostar de quem lhe fez mal. Não estou dizendo que volte a conviver com essa pessoa. Não estou sugerindo que passe a vê-la como um anjo, ou como alguém que agiu insensatamente, sem intenção de ferir. Estou apenas afirmando que a energia do ódio não irá levá-lo a lugar nenhum; mas a energia do perdão, que se manifesta através do amor, conseguirá transformar positivamente sua vida.
- Fui ferido muitas vezes.
- Por causa disso, ainda carrega dentro de si o menino que chorou escondido dos pais, que era o mais fraco da escola. Ainda traz as marcas do rapaz franzino que não conseguia arranjar uma namorada, que jamais foi bom em qualquer esporte. Não conseguiu afastar as cicatrizes de algumas injustiças que cometeram com você durante sua vida.Mas o que isso lhe acrescenta de bom?
“Nada. Absolutamente nada. Apenas um constante desejo de ter piedade de si mesmo, porque foi vítima dos que eram mais fortes. Ou então, vestir-se como um vingador pronto para ferir mais ainda aquele que o machucou. Você não acha que está perdendo seu tempo com isso?
- Acho que é humano.
- Realmente é humano. Mas não é nem inteligente, nem razoável. Respeite seu tempo nesta Terra, saiba que Deus sempre o perdoou, e perdoe também.

Depois desta conversa com J., que aconteceu pouco antes de minha viagem para passar 40 dias no deserto de Mojave (Estados Unidos), eu comecei a entender melhor o menino, o adolescente, o adulto ferido que fui um dia. Certa tarde, indo do Vale da Morte (Califórnia) para Tucson (Arizona), fiz mentalmente uma lista de todos que eu julgava odiar, porque me feriram. Fui perdoando um a um, e seis horas depois, em Tucson, minha alma estava mais leve, e minha vida mudara para muito melhor.

Paulo Coelho

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Grãos de areia


Esse mar que vagueia,
por entre o presente e o passado,
numa turbulenta areia
em cada grão recorda o que foi sentido.
Deixando marcas pela praia
de todo o amor contido
sobre o olhar atento de uma rocha
que segue o tempo perdido...
Da rocha já pouco sobra,
se não partículas,
das nossas sílabas,
que esse mar recorda.
Dessas almas pequenas
que nos escorrem pelas mãos
que trazem solidão apenas
com salpicos de ilusão.
A ilusão de um passado presente
que vive nos grãos de areia que fogem
por entre as mãos de quem sente
a sua ultima beleza consomem.
E é com a areia que nossos corpos
se conjugam em contento
num presente sem futuro
num encontro de momento.

Vanda Paz